Irmãos, venho lembrar-vos o Evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais;?por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão.
(1 Coríntios 15.1-2)
Se alguém te perguntasse por quem, ou pelo que, você é salvo, provavelmente a resposta seria: por meio de Cristo. De fato, é por meio dEle que veio a salvação ao mundo, e existem inúmeros textos que deixam clara essa realidade.
Contudo, quando observamos o que Paulo nos diz nesse texto, percebemos que ele atribui a salvação ao Evangelho, o que nos leva a uma reflexão um pouco mais aprofundada do que aquela que tivemos ao responder à pergunta acima.
Em primeiro lugar, é necessário compreender bem o que é este Evangelho que nos salva. Essa compreensão nos leva não aos quatro primeiros livros do Novo Testamento, os quais chamamos de evangelhos, mas até o Antigo Testamento.
A ideia de evangelho não é inventada por Cristo ou pelos apóstolos. A palavra já era utilizada dentro do contexto grego, indicando uma boa notícia e a recompensa que se dava pela boa notícia. Por essa razão, quando a Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) foi traduzida para o grego, antes de Cristo nascer, em alguns lugares a palavra evangelho foi utilizada.
Uma dessas passagens se encontra em Isaías 40.9, onde o profeta Isaías anuncia que Deus viria para consolar e resgatar Seu povo da escravidão e do exílio. O Novo Testamento utiliza da mesma linguagem do profeta para se referir a João Batista como aquele que prepararia o caminho do Senhor. Fica claro no contexto neotestamentário que as boas novas, ou seja, o Evangelho, aponta(m) para Cristo desde o Antigo Testamento.
Precisamos compreender que o Evangelho é a boa notícia de Deus para o homem perdido. Essa boa notícia é aguardada desde o Antigo Testamento, e foi pela fé nessa esperança que, mesmo sem conhecerem a Cristo encarnado, os antigos puderam ser salvos. A esse respeito, a leitura de Hebreus 11 pode iluminar nosso entendimento com a percepção de que os antigos esperavam o cumprimento das promessas que não se cumpriram no seu tempo.
Percebe-se que o Evangelho cobre então não apenas a vida e obra de Jesus durante Sua encarnação, mas um contexto mais amplo que vai desde a queda até Sua segunda vinda. O Evangelho parece abarcar tanto o ministério terreno de Cristo como a expectativa da Sua vinda e de Seu retorno no fim dos tempos. O Evangelho corresponde a todo o conteúdo da revelação de Deus.
Dessa forma, sermos salvos pelo Evangelho parece ser uma resposta bem completa. Não que a resposta inicial esteja incorreta, mas ela depende muito de qual Jesus se tem em mente.
Desde o início da Igreja, muitas concepções sobre Jesus foram propostas. Alguns defendiam que Ele não era homem, mas apenas um espírito; outros acreditavam que Ele não era Deus, mas uma criatura; outros diziam que o Jesus homem foi adotado por Deus, tornando-se Seu filho no batismo; alguns ainda criam em Jesus como Messias, mas entendiam que apenas crer nEle não era suficiente e que a Salvação deveria ser garantida por meio de outras práticas.
Mesmo com concepções tão diferentes, todos estes diziam crer em Jesus. A verdade é que o próprio Jesus disse que nem todos que dizem crer nEle e que dizem segui-lo são salvos (Mateus 7.7-23). Crer em Jesus pode não significar nada se não se crer no Jesus correto.
É nesse ponto que o Evangelho tem sua importância. É o Evangelho que nos explica quem de fato é Jesus. É Ele quem nos guia pela mão no conhecimento da revelação de Cristo. Por isso, a Salvação vem pelo Evangelho, pelo crer no Cristo que é pregado no Evangelho.
Nesse ponto, descartamos inúmeras ideologias modernas que dizem crer em Cristo mas que, na realidade, constroem para si um Jesus segundo seus próprios interesses e totalmente desconexo com o verdadeiro Jesus.
Tratando de maneira mais clara a Salvação, observamos Paulo dizer aos romanos: Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação. (Romanos 10.9-10)
Observe como o Evangelho não apenas coloca a fé em Jesus, mas define quem é esse Jesus. Veja que, em primeiro lugar, se confessa a Jesus como Senhor e depois se crê, como Paulo diz no texto que lemos inicialmente que Deus o ressuscitou dentre os mortos.
Cristo não é apenas um homem humilde e bondoso que viveu nos dando um exemplo a ser seguido. Cristo é o Senhor! Essa expressão Senhor é sobremodo importante, pois não é aquela que se usa com respeito a alguém mais velho.
Paulo falando aos Filipenses no segundo capítulo resume a encarnação de Cristo, concluindo que, após Sua obediência perfeita, Deus deu a Ele um Nome acima de todo nome, para que todos confessem que esse Jesus é Senhor.
Acontece que essa palavra usada para Senhor é a mesma que os judeus que traduziram a Bíblia Hebraica para o grego usaram para escrever o nome impronunciável de Deus. Senhor é mais que um título de respeito, mas o Nome do próprio Deus que é também o nome de Cristo, afinal, Ele é o próprio Deus.
Precisamos entender que, se não crermos em Cristo como o próprio Deus e como Aquele que é o dono de nossa vida, nossa fé é vã e sem proveito. Crer no Evangelho é mais do que acreditar em Jesus, mas deixá-lo tomar as rédeas de nossa vida e nos levar como e para onde Ele quiser.
Por fim, sendo Ele Deus, teve poder sobre a morte e ressurgiu ao terceiro dia. Um homem, por mais santo que fosse, poderia salvar apenas a si mesmo; ou se trocasse de lugar com um pecador, ele mesmo permaneceria morto para sempre. Foi pela Sua divindade que Cristo venceu a morte e garantiu para o Seu povo a vitória final sobre as trevas.
A Salvação vem pelo crer no Evangelho, mas crer no Evangelho completo. Não podemos escolher partes que consideramos mais importantes e mais aplicáveis. Ou cremos em todo o Evangelho, ou criaremos um outro Jesus sem poder para salvar. O chamado da Bíblia é claro: Creia no evangelho!
- Pr. Gustavo Quirino Pastor Auxiliar